top of page

Aquela camisa preta

As escolhas que fazemos na vida, marcam com tanta intensidade nossos passos que é difícil de acreditar que se eu tivesse escolhido uma camisa azul ao invés de preta naquela sexta, talvez eu não pararia para ir ao banheiro daquele bar para checar se ainda tinha algum pelinho, roupas pretas... que dilema... Não sou o mauricinho da 8ª série do colegial, mas detesto pelinhos, rsrs...

Entrei naquele bar, dia de garoa, início de inverno, adoro essa época do ano, do corredor que me guiava até o banheiro masculino, eu ouvi o som de um violino, tocando minha música clássica preferida... Eu pensei, será que é coisa da minha cabeça? Nunca havia ouvido música clássica naquele bar, era um bar alternativo, músicas mais calmas e com vários eventos diferentes, leitura de poemas com dramatizações esporádicas... Enfim, não tive como não seguir as notas daquele instrumento... Eu fui guiado.

Entrei em uma parte do bar onde os eventos aconteciam, shows, danças... Era de lá que vinha minha música, cheguei curioso, olhei ao redor para ver se encontraria talvez um amigo meu de longa data, pois sei que geralmente ele pinta por lá, e segui para me aproximar mais do palco, eis que me deparei com aquela joia ruiva.

Com seus longos cabelos ruivos e com suas mãos delicadas ela acariciava aquele violino; de olhos fechados, ela estava entregue.

A ruiva se movimentava de acordo com cada nota qual ela acarinhava; os seus longos cabelos por vezes tocavam o violino, indo e voltando, e eu... Paralisei.

Paralisei em seus movimentos suaves e apreciei minha música sendo sentida por aquele ser encantando que me passava uma sensação da qual eu pensei que tivesse perdido: paixão.

Ao final, eu aplaudi e fiquei curioso, pois queria ver seus olhos abertos, queria aqueles olhos nos meus. Esperei, até que nossos olhos se encontraram, foi ali.

Eu me aproximei e perguntei o modelo do violino (como se eu entendesse de algo) ela riu e disse que era 4/4 Eagle, eu continuei: - Nossa que ótimo! Será que você pode me acompanhar para tomar um café, uma água...?

Eu não sabia o que dizer, foram as primeiras palavras que vieram a minha mente, e ela me surpreendeu:

- Sim, estou com muita sede, (risos).

E foi ali, uma água, troca, diferenças e semelhanças:

Ela: música, poeta, artista de trapézio...

Eu: arquiteto, apaixonado por culinária...

Taí, sempre achei que eu jamais conseguiria olhar para uma artista, uma mulher assim, tão intensa e que vive inteiramente em sua feminilidade. Eu achava impossível, meu mundo é tão diferente... Mas foi por esse motivo que nossos mundos se cruzaram, não poderia ser de outra maneira. Minha ruiva, você chegou com todo seu espaço: o mundo!

Você veio com sua música e preencheu minhas noites que antes eram silenciosas e vagas, eu me envolvo em seu perfume de lavanda, sua pele macia e quente me acaricia, seus dias viraram meus e os meus dias viraram seus. Tudo por conta daquela camisa preta que eu guardo até hoje (risos). Eu estou aqui minha ruiva, pra te dizer que até quando você deixa a pasta de dentes sem tampa, eu fico feliz! Tenho o que preciso com você, o equilíbrio.

O equilíbrio é o que precisamos para seguir a diante com nossa evolução. E com você minha ruiva, eu tenho carinho, amor e sedução.

Sou seu artista, te desenho, te danço, te toco! Você é a minha arquiteta, me constrói; você me prepara para receber a luz natural da vida.

Ruiva, estou aqui para dizer que você transformou meu mundo simétrico em música, você me deu um teto.

Você é a minha casa e eu quero continuar sendo sua partitura; que a partir de agora nossa construção seja pura, que esse amor que temos seja inspiração futura! Vamos juntar nossas almas, quero de você o que você quer de mim, o que sempre fomos, o que éramos e o que nos tornaremos:

Alma pura.

Ai aquela camisa preta...

(Music - Debussy - Clair the lune)

Destaque
Tags
bottom of page