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Ela é brilho

Eu vivo correndo, parece que o tempo está parado em alguma dimensão inexistente...

Em algum lugar que; quanto mais eu corro, mais pareço estar parado. E foi em um dia desses que eu encontrei ela, caminhava distraída - notei pelo olhar.

Aqueles olhos tão perfeitos, tão brilhantes... Pareciam estar à procura de algo, como eu queria estar na mira dela...

Assim como ela fez o meu relógio andar; eu queria fazer ela se encontrar...

Ela é brilho, com seu vestido contornando singelamente suas curvas, ela caminha com firmeza, com objetividade em cada passo ela mostra que sabe o que quer; escolhendo o capuccino menor ao invés do café que tanto a vendedora oferece.

Começo a pensar em como me aproximar, eu sei, eu vivo agitado, mas esse dia eu parei...Comentei sobre o capuccino, eu disse que a bebida do local não era nada perto do chocolate italiano batido e com marshmallow por cima e que ela deveria experimentar.

Ela sorriu, e disse que precisava mesmo de algo diferente naquele dia, eu bobo que não sou, a convidei para compartilhar a mesinha...

Aquele tipo de bar/café com mesinhas redondas, com vasinhos de flores azuis; rústico e urbano.

Notei sua intensidade, começamos um papo similar, ela falava sobre a cidade e de como detestava ter de viver correndo e se sentia vazia por não poder aproveitar todos os eventos culturais da cidade, ou até mesmo ficar deitada em sua rede na varada, tomando sua taça de vinho.

Eu falava que me sentia sozinho, mesmo rodeado de amigos, pois todos esses: são colegas de trabalho.

Sinto falta de escrever cartas e de ir à Galeria do Rock, quando ainda tínhamos boas lojas e comprávamos K7s e CDs - hoje o local foi tomado por lojas de camisetas - nada contra - mas sinto falta da simplicidade...

Ela, com os olhos sorriu, e disse que às vezes se sentia totalmente deslocada, como se estivesse parada no tempo, mesmo não sendo nascida nos anos dourados, ela compartilhava comigo a mesma angústia de saudade... Às vezes doce, muitas vezes amarga.

Quando me dei conta, eu estava perto de perder uma reunião com um cliente alemão muito exigente, pensei então: Por que não continuarmos? Não me lembro há quanto tempo não me sentia tão leve...

Ela é brilho, tentei avisar sobre o meu compromisso, mas me perdi no movimento dos seus cabelos, eles bailavam no ar...

Aquele perfume de baunilha me enfeitiçou e eu continuei a contemplação e desmarquei o compromisso via smartphone... A tecnologia nos salvando... Trabalho, trabalho... Comentei com ela sobre as exigências/ cobranças diárias... Esse robô automático que nos tornamos às vezes, eu precisava de férias.

Ela tão plena... Me contou que trabalhava em uma coluna de jornal on line, escrevia toda semana, comentava sobre novos eventos, inaugurações de bares/ restaurantes - gostava disso, ia até os locais para avaliar e depois escrever...

Mas o que mais a deixava com paixão, era escrever sobre suas viagens.

Como ela é brilho... preencheu toda minha tarde com sua voz, seus suspiros de alegria ao comentar sobre Amsterdã.

Outro café, números de telefones e a ansiedade do até.

Controlar e esperar para ligar, ou enviar um: oi, vamos continuar?

Ela é brilho, curvas, aromas, risos e lindos passos.

Agora depois de tanto tempo, estou à tremer, esperando por ela... Em pé, no final do corredor.

Aguardando seu sim, minha mulher.

Meu amor.

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